quinta-feira, 5 de julho de 2012

entre a quietude e a simplicidade

fim de tarde na eictv/ cuba

Mês de julho, recesso profissional, o inverno chega e aos poucos vamos, como se diz, colocando as coisas em dia. O que intriga é que sempre estamos colocando as coisas em dia. Todos sempre estão colocando suas coisas em dia. No meu caso, ainda há alguns livros perdidos na sala e no guarda-roupa, algumas fotografias de viagem em pastas erradas e outras filmagens em fitas mini-dv's e que eu não sei como editá-las. Ao largo disso tudo, o que me coloca em dia são essas filmagens do AAZ, e mais ainda a edição deste material.


Enquanto o teaser #03 está sendo renderizado, escrevo afim de dizer que as filmagens da última semana foram inquietantes, posto que as duas palavras que mais vi e ouvi foram "quietude" e "simples". A quietude foi muito dita porque a companhia já recebeu um primeiro texto para a criação do espetáculo e agora o processo trata de dramatizar aquelas palavras, isto é, é hora de traduzir em jogo cênico o que até este momento não existia: um discurso narrativo. E se houve algo cinematográfico nesta última semana de ensaios, foi justamente este bom conflito entre o verbo e a ação, ou como diria o poeta, entre a intenção e o gesto.


Além disso, até este momento do processo criativo, nunca se disse tanto "é simples". O curioso é que, atualmente, todos dizem "é simples" em algum momento - muito embora nada seja simples quando se está em movimento. O texto diz que é simples, os diretores dizem que 'é simples', os atores, quando se deixam ouvir a si mesmos, dizem que é preciso buscar o que é simples... A gente sabe que, às vezes, é preciso saturar o signo para que o significado seja sentido, ou ressentido, de uma maneira mais expressiva. Dizem outros que este tipo de atitude é típica do mal da virada deste século, 'a linguagem'... 


Foi o diretor musical Beto Quadros quem disse, em algum momento nos ensaios, que não existe silêncio, e sim a quietude. E disso ele deve entender, afinal sua pesquisa sobre música russa tem nos impressionado sobremaneira, tanto ouso dizer que os elementos musicais são os mais coerentes deste processo criativo... Além dele, cito também outra grande cabeça, o Robert Bresson - o homem com a idade do século vinte -, que em sua indispensáveis "Notas sobre o Cinematógrafo" que chegou a afirmar que "o cinema está no silêncio".


Quanto aquilo que é simples, vejo que a única coisa natural e necessária - e portanto simples - é a criação.


Abraços!
Fábio Monteiro


PS: E por falar em simplicidade e quietude, nossas saudações aquele que fez por merecê-las: Carlos R. (1935/2012)

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