terça-feira, 24 de julho de 2012

a atriz e o desafio


Gostaria de publicar aqui também um artigo da Ana:

Um dia pensei em desafio, mas quando penso nisso em minha profissão, fantasio tanto, e quando este tal desafio chega não sei muito o que fazer com ele, porque acabei vendo que o desafio está mesmo no cotidiano, no corriqueiro, acabei percebendo com este novo trabalho desafiador o quanto viver é uma grande aventura. (Aliás, todo novo trabalho é um grande desafio).

E isso não está em pular de pára-quedas ou escalar uma grande montanha, a aventura desafiadora da vida está dentro de nós mesmos, é saber lidar com nossas angustias, é saber aceitar que diante de alguns fatos, e às vezes os mais simples nós somos ridículos. Sim somos ridículos!! E fazemos coisas que por muitas vezes não compreendemos, sim fazemos! Julgamos pessoas e situações. Sim Julgamos! Procuramos os grandes heróis da vida o tempo todo. Sim procuramos!

O Tchekhov tem nos ensinado muitas coisas belas e simples, “que talvez daqui a cem ou duzentos anos vão ser compreendidas”... A delicadeza do Samir, a maneira com que ele nos presenteia com personagens tão próximo de nós, e tão próximos do Tchekhov, muitas vezes, sem pretensão nenhuma, me lembra as histórias do Tam (Teatro de arte de Moscou) e a angustia de seus intérpretes, que muitas vezes não entendiam os textos do autor que eles tanto trabalharam.

E aí está ele novamente O Desafio, estamos a um mês de nossa estréia, e os desafios não param de chegar, acho angustiante, mas saboroso, porque acho que no fundo nós artistas gostamos mesmo é de ficar incomodados, de se sentir perdido pra se achar no palco, se reinventar a cada instante... E como eu gosto!

 

quinta-feira, 5 de julho de 2012

entre a quietude e a simplicidade

fim de tarde na eictv/ cuba

Mês de julho, recesso profissional, o inverno chega e aos poucos vamos, como se diz, colocando as coisas em dia. O que intriga é que sempre estamos colocando as coisas em dia. Todos sempre estão colocando suas coisas em dia. No meu caso, ainda há alguns livros perdidos na sala e no guarda-roupa, algumas fotografias de viagem em pastas erradas e outras filmagens em fitas mini-dv's e que eu não sei como editá-las. Ao largo disso tudo, o que me coloca em dia são essas filmagens do AAZ, e mais ainda a edição deste material.


Enquanto o teaser #03 está sendo renderizado, escrevo afim de dizer que as filmagens da última semana foram inquietantes, posto que as duas palavras que mais vi e ouvi foram "quietude" e "simples". A quietude foi muito dita porque a companhia já recebeu um primeiro texto para a criação do espetáculo e agora o processo trata de dramatizar aquelas palavras, isto é, é hora de traduzir em jogo cênico o que até este momento não existia: um discurso narrativo. E se houve algo cinematográfico nesta última semana de ensaios, foi justamente este bom conflito entre o verbo e a ação, ou como diria o poeta, entre a intenção e o gesto.


Além disso, até este momento do processo criativo, nunca se disse tanto "é simples". O curioso é que, atualmente, todos dizem "é simples" em algum momento - muito embora nada seja simples quando se está em movimento. O texto diz que é simples, os diretores dizem que 'é simples', os atores, quando se deixam ouvir a si mesmos, dizem que é preciso buscar o que é simples... A gente sabe que, às vezes, é preciso saturar o signo para que o significado seja sentido, ou ressentido, de uma maneira mais expressiva. Dizem outros que este tipo de atitude é típica do mal da virada deste século, 'a linguagem'... 


Foi o diretor musical Beto Quadros quem disse, em algum momento nos ensaios, que não existe silêncio, e sim a quietude. E disso ele deve entender, afinal sua pesquisa sobre música russa tem nos impressionado sobremaneira, tanto ouso dizer que os elementos musicais são os mais coerentes deste processo criativo... Além dele, cito também outra grande cabeça, o Robert Bresson - o homem com a idade do século vinte -, que em sua indispensáveis "Notas sobre o Cinematógrafo" que chegou a afirmar que "o cinema está no silêncio".


Quanto aquilo que é simples, vejo que a única coisa natural e necessária - e portanto simples - é a criação.


Abraços!
Fábio Monteiro


PS: E por falar em simplicidade e quietude, nossas saudações aquele que fez por merecê-las: Carlos R. (1935/2012)